Após um hiato de mais de um mês, a série sobre a carreira de uma das figuras mais simpáticas da história da F1 continua. As outras partes estão aqui.
Pareciam. Na próxima parte, o GP da Alemanha e uma mudança de rumos na carreira de Ligier.
E foi assim que eu terminei o último post, com essa frase de efeito que arrebatou vossos corações. Mas não se enganem. Eu fui um crápula. Após longos e cativantes 40 dias de espera, volto aqui para relatar o GP da Holanda de 1966, e não o da Alemanha.
A corrida seria disputada na lendária Zandvoort dos anos 60, com seu traçado sinuoso e a curva Tarzan, que tanto nos cativa. Com 90 voltas em seu traçado de 4,1 km, a prova teria longos 377 km. 18 participantes, um bom número, arriscariam suas respectivas vértebras naquela tarde de Julho.
E Ligier foi mal, como de costume. Conseguiu apenas o décimo sétimo tempo, popular penúltimo, dividindo a última fila com o desconhecido John Taylor. Mais a frente, voltarei a mencioná-lo, aguardem. Nas cabeças, Jack Brahbam marcou a pole, seguido de Denny Hulme e Jim Clark. Nesse meio tempo a sorte sorriu para Ligier: Bruce McLaren enfrentava problemas e não largaria após marcar o 13º tempo. Uma posição a mais para Ligier, pois.
A corrida ocorreu sem transtornos. Até a volta 80, Guy se mantinha firme na nona posição. Menção para os oito abandonos que ocorreram. Ligier era o último. Maaaas, ânimo galera, ele estava afinal, na pista! Seguiu na tocada e terminou a corrida belas 6 voltas atrás do líder. O pessoal da frente: Brahbam, Hill e Clark. Primeiro pódio de Jim Clark na temporada, após liderar longas 49 voltas da corrida. Encerrava-se a série de azares que praticamente limaram as chances do escocês ser campeão. Com a terceira vitória seguida, Brahbam abria uma bela vantagem na liderança do campeonato e rumava ao tri.
Façam as malas agora. Partiremos para o belo Nurburgring-Nordschleife. O templo máximo da Fórmula Um.
A corrida seria realizada no dia 7 de Agosto, uma cativante e chuvosa tarde de domingo. Mas Ligier nem teve o privilégio de largar. O que se passou nos treinos foi o pior momento de sua carreira. The Ring não perdoa ninguém.
Ainda na sexta, treinos livres, Guy Ligier entra rápido demais em uma veloz curva a direita, perdendo o controle de seu Cooper T81. Capota várias vezes, cerca de seis metros de altura, indo se chocar contra algumas árvores além pista. Sofre 47 fraturas, estilhaça sua rótula e ganha uma fratura exposta na perna.
A princípio, os médicos pensam em amputar a perna de Guy, com medo de uma hemorragia, e subsequentes infecções. Mas Ligier, o patriota, diz que, já que está em vias de perder a perna, quer ser operado na França. Com ajuda de amigos, apesar da resistência médica Ligier é transferido para a França. Contra tudo e todos, Ligier se recupera bem e já pensa em voltar a correr poucas semanas após o acidente.
Mesmo com todos meio abalados pelo acidente de Ligier, o show não poderia parar. Em Nurburgring, devido a pista grande e tudo mais, era permitido aos carros da Fórmula 2 correrem junto aos da categoria principal, portanto a corrida contaria com 30 pilotos, 19 da F1, e mais 11 da F2. Foram para a pista e no sábado o grid tomou forma. Clark era o pole, seguido de Surtees e Stewart. Uma bela curiosidade é que a Lotus conquistou o décimo sexto lugar no grid com Peter Arudell, ultrapassando a Maserati e se tornando a equipe com mais qualificações em décimo sexto até aquele momento, com 26. Um cativante recorde completamente inútil. Esse recorde permanece com a Lotus até hoje, com 69 classificações, aliás.
E o Green Hell molhado é um convite a acidentes, pois. Na volta 11, após uma escolha errada de pneus, Clark roda e sai da pista, largando a liderança nas mãos suadas de Jack Brahbam. Mas o pior acidente aconteceu ainda na primeira volta. John Surtees e John Taylor – aquele que eu mencionei no começo do texto. Em plena Flugplatz, eles se tocam em alta velocidade e Taylor sai da pista. Acaba batendo forte e seu carro pega fogo. Após ficar preso por um tempo, ele sai com queimaduras gravíssimas e é levado ao hospital. Quatro semanas depois, sua morte é decretada. O Greeh Hell havia feito mais uma vítima.
O resto da corrida aconteceu de maneira normal. Formaram o pódio: Brahbam – que venceu sua quarta seguida e já aparecia com uma mão na taça – Surtees e Ridnt. Entre os F2, o melhor foi Jean-Pierre Baltoise, que terminou em um cativante oitavo.
No próximo post, a volta de Guy Ligier as pistas. E aproveitem também para reler o texto contando quantas vezes eu utilizei o termo “cativar”.