Guy Ligier é conhecido por ter sido o dono de um das mais célebres equipes da história da Fórmula Um, a homônima Ligier. Guy, que completou longos 82 anos na última semana, fez dela a realização do sonho de uma equipe realmente francesa na F1. Piloto francês, patrocinador francês, motor francês e tudo mais que pudesse ser francês. Uma equipe da terrinha, nacionalista até o talo. Porém, uma década antes de formar sua própria equipe, em 1976, Guy se aventurou em alguns GP’s como piloto. Foram 13 corridas oficiais e mais 4 extra-campeonato, e é sobre elas que eu falarei agora, uma a uma.
Mas é claro, antes tem um epílogo.
1966 foi o ano em que ocorreu uma mudança técnica no regulamento que fez com que todos os construtores tivessem que replanejar seus bólidos. Enquanto marcas famosas como Lotus e BRM não tiveram tempo para construir carros para si mesmas, começando a temporada com carros do ano anterior, a Cooper foi lá e deu conta do serviço. Produziu dois carros novinhos em folha para seus pilotos oficiais, Jochen Rindt e Richie Ginther, e ainda sobraram três. O primeiro ficou com Rob Walker, que o entregou a Jo Siffert para que este corresse em sua equipe, e o segundo com Jo Bonnier, correndo por equipe própria. Jo, porém só usaria seu próprio carro no meio da temporada, fazendo as primeiras corridas com um Brahbam do ano anterior. Guy deu seu jeito e mesmo sem experiência alguma na F1 acabou ficando com o último T81. Feliz da vida por ter um carro do ano enquanto a concorrência contava com máquinas ultrapassadas, Guy se preparou para a sua primeira corrida. Mas a eficiência da Cooper em produzir os carros tão rapidamente teria um preço.
Partindo do princípio, a primeira corrida de Guy Ligier foi em uma prova não-oficial, o Syracuse GP de 1966, onde 12 pilotos participariam. Me recuso a traduzir a palavra Syracuse porque Ciracusa é muito escroto. Guy conseguiu um bom quinto lugar no grid. Todo animadão e de pau duro, Guy achou que poderia arranjar um lugar no pódio, quem sabe. Mas o quinto posto na grelha de partida pode ser enganoso. O pole John Surtees, correndo com uma Ferrari atualizada e em ponto de bala, marcou 1’42.3 no treino classificatório, em uma volta realmente perfeita, visto que o segundo colocado, Lorenzo Bandini, também da Ferrari, ficou 1,6 segundos atrás. Em terceiro veio Jo Siffert, a bordo do outro Cooper T81, e em quarto, o segundo Jo, o Bonnier, correndo com um Brahbam do ano passado. No resumo da ópera, Ligier era o quinto lugar, em um grid de apenas 12 carros, sendo que três destes nem marcaram tempo na classificação, um deles Jack Brahbam e seu Brahbam atualizado, que seria mais um que provavelmente largaria na frente de Guy. Perdeu para seus concorrentes que utilizavam carros novos e mais um que corria com um carro antigo. O quinto que parecia bom, na verdade, era uma droga.
Uma droga? Talvez não. Guy corria seu primeiro GP e não tinha experiância alguma na F1, vamos lembrar. O que viesse era lucro.
Foi para a corrida e terminou em sexto, um feito. Mas a rapidez da Cooper acabou rendendo a primeira dor de cabeça de Ligier na F1. Com problemas mecânicos, ele se arrastou por longas 39 voltas até terminar a corrida, 17, eu repito, 17 voltas atrás do líder. Ele não abandonou faltando 17 voltas, ele levou 17 voltas. Só para deixar claro. Foi o último entre os que completaram a prova, se é que dá pra dizer que ele completou. Todos os outros abandonaram a corrida, efetivamente. Maaaaas, isso não importava! O francês havia terminado em sexto, e se fosse em um GP oficial teria até pontuado. Os problemas do seu T81 não lhe causaram uma grande dor de cabeça, de fato. Na verdade ele não teria pontuado, pois não completou 90% da prova. Guardem essa informação.
Acho que vou gostar de ler isto…
Pingback: 17 vezes Guy Ligier – Parte 2 « Sexta Marcha
Pingback: 17 Vezes Guy Ligier – Parte 3 « Sexta Marcha