As vezes, enquanto assistimos a uma corrida acontecem acidentes. Acidentes das mais diferentes gravidades. Algumas rodadas, algumas trombadas, algum capotamentozinho. E tem aqueles que a gente olha e pensa: “Morreu”. Este ano, na F-Truck, o acidente de Diumar Bueno se encaixou nessa categoria. Na Fórmula Um, eu vi o de Robert Kubica em 2007 e fiquei com medo. Vi o de Dan Wheldon ano passado e, merda, eu estava certo.
Nós, verdadeiros fãs do automobilismo não gostamos destes acidentes. Quando eles dão merda mesmo. Quando o piloto “apenas” sofre alguns ferimentos ou até mesmo sai andando, ficamos vendo e revendo o replay, analisando o conteúdo da obra e pensando: “Esse aí nasceu de novo”. E se tem um cara que é mestre na arte de nascer de novo, esse cara é Allan McNish.
Com longa e bem-sucedida carreira no endurance, algumas temporadas na F3000 e passagens pela F1 e DTM, Allan McNish é um dos grandes pilotos do automobilismo moderno. E também é um gato, no que tange a suas sete vidas. Sim, o cara deve ser indestrutível, seilá. Separei três acidentes bem feios da carreira do escocês. Daqueles que a gente olha e fala: “Morreu”. Mas que depois a gente vê que não aconteceu nada e fica admirando o replay por um longo tempo.
F3000, Donington Park/1990
Eu vi esse acidente algum tempo atrás no Youtube, mas não sabia que se tratava de McNish. Na abertura da temporada de 1990 em Donington, o intrépido escocês se toca com Emanuele Naspetti na segunda volta e ambos saem da pista. McNish ensaia um Vôo e acaba batendo na quina de um muro de concreto. Com o impacto, o motor de seu Lola-Mugen Honda se desprende do carro e voa em direção ao pobres coitados que assistiam a corrida, caindo pesadamente sobre um deles matando-o instantaneamente. Allan McNish, o indestrutível, porém, nada sofreu. Apenas uma semana depois ele conquistaria sua primeira vitória na F3000.
Fórmula Um, Suzuka/2002
Famoso. No GP do Japão de 2002, o campeonato já havia sido decidido a favor de Michael Schumacher havia tempo. McNish se descabelava: não havia conquistado um único ponto durante o ano. Seu companheiro Mika Salo havia conquistado dois pontos, e até Heinz-Harald Fretzen, em uma precária Arrows quase falida havia pontuado. Piorando o drama, o estreante Mark Webber também tinha marcado seus pontinhos com a Minardi. Mesmo estreante, McNish não estava muito bem na temporada. Claro, na época apenas os seis primeiros pontuavam. Mas não havia desculpa, Allan estava devendo e pronto. Mas foi em Suzuka que a temporada acabou da pior forma possível: com um forte acidente, em uma das piores curvas do calendário, a 130R. No classificatório, faltando menos de meia hora para o término da sessão, McNish sai torto da temida 130R e perde a traseira, tentando consertar ele acaba rodando o carro e indo contra a barreira completamente de costas. Uma elevação no terreno completa o serviço e o carro ainda sai do solo antes da batida. Pronto, morreu. Morreu nada. Allan McNish, o indestrutível, quase nada sofreu. Saiu mancando e parou na grama para refletir sobre a vida. Foi seu último GP como piloto titular na Fórmula Um.
Endurance, Le Mans/2011
Uma coisa sempre esteve bem clara na minha mente: misturar carros GT e os poderosos protótipos de Le Mans geralmente dá merda. Fica muito bonito, mas parte da festa, enche o grid e o bolso dos organizadores, mas dá merda. Deu merda esse ano, com Anthony Davidson. E mesmo sendo bicampeão das 24 Horas De Le Mans e tricampeão da ALMS, o nosso herói da terra onde os homens usam saia não escapou dessa regra do endurance. Deu merda quando seu Audi R18 TDI se encontrou com uma Ferrari 458 Italia, guiada por Anthony Beltoise, filho de Jean-Pierre Beltoise, aquele mesmo que pilotou na Fórmula Um nas décadas de 60 e 70 vencendo uma corrida, inclusive. O protótipo desgovernado bateu violentamente na barreira de pneus quase inexistente no final da área de escape. Então, ricocheteou no murinho que separava a pista da área dos comissários e fotógrafos e rodopiou incansavelmente no ar, jogando destroços por todo o local e atingindo algumas pessoas. Não se sabe como, nenhum fotógrafo, comissário ou espectador se feriu gravemente. Muito menos Allan McNish, o indestrutível, que nada sofreu. Saiu andando, pronto pra outra. O que no caso dele, não é uma mera expressão.