Qualquer tipo de competição esportiva perde boa parte de sua graça quando o mesmo competidor vence várias vezes seguidas. Qualquer competição. No automobilismo, temos alguns bons exemplos: Schumacher, Loeb, Bourdais, Franchitti Rossi, Johnson e Kristensen. Um de cada categoria, todos recentes. Venceram pelo menos três vezes seguidas seus respectivos campeonatos. Uma chatisse. E Vettel, chato-mor da F1, vai pelo mesmo caminho.
Na áurea década de 60, quando meus pais nasceram, Pelé reinava e mísseis Soviéticos ameaçavam o imponente Estados Unidos como ninguém nunca havia visto; Le Mans tinha um único dono: a Ferrari.
O domínio vermelho, comandado por Il Commendatore em pessoa, era estarrecedor. Entre 1957 e 1965 a esquadra italiana havia vencido nada menos que oito edições da prova. A única derrota ocorrera em 1959, quando o mítico Carroll Shelby venceu a prova guiando um Aston Martin DBR1. Excetuando este pequeno deslize, a Ferrari imperava.
A domínio da Ferrari cruzou o Atlântico e desafio a toda-poderosa Ford. Em plenas 12 Horas De Sebring, os italianos venceram com maestria, deixando Henry Ford II e a americanada toda de queixo caído. Ford fez a primeira coisa que qualquer ricaço faria: tentou comprar a Ferrari. Mas O Comendador é orgulhoso e respondeu ao americano com um sonoro e potente NÃO.
Henry Ford decidiu fazer a segunda coisa que qualquer ricaço faria: construir um carro que pudesse por os Ferrari no chinelo, sem economizar nem um único dólar. Carta branca para os engenheiros: Vamos construir o melhor carro GT do mundo.
O passo inicial da criação foi de Lee Iacocca, o criador do celebrado Ford Mustang e do não tão celebrado Ford Pinto. É. Lee tinha esboços para o projeto de um carro de corrida capaz de ultrapassar a marca de 320 km/h. Formidável. Com a ajuda de um time de estrelas da indústria automobilística, o Ford GT40 ia nascendo.
Em 1964 o carro estava pronto. Media 3,96 metros de comprimento e apenas 1,02 metro de altura, ou seja, 40 polegadas. O famoso “40” que dá nome ao carro. Mas a primeira tentativa de conquistas Le Mans foi falha. Nenhum dos três carros inscritos resistiu ás 24 horas da prova. Dois câmbios quebrados e um incêndio (!). Mas 1965 prometia ser melhor. Uma promessa, aliás, que não se cumpriu. Ainda mais rápida, a versão de 1965 bateu na marca dos 329 km/h, o que acabou se tornando um tiro no pé: nenhum câmbio suportava tal potência, o que ocasionou em mais três quebras.
Mas 1966 marcou a derrocada italiana. Bruce McLaren e Chris Amon conduziram o Ford GT40 à sua primeira vitória em Le Mans. A primeira de outras três, o início de uma nova hegemonia. Foi o único modelo a vencer Le Mans mais de uma vez. O resto, é história..